Uma tenda montada em meio às árvores do Clube Escola Tatuapé, ao lado da Estação Penha do Metrô, na Zona Leste de SP, chama a atenção de quem passa pelo local. O espaço abriga o Engenho Teatral, um grupo que desenvolve espetáculos para o público que vive nos bairros da periferia da capital e não tem o hábito de ir ao teatro, seja pelo alto custo dos ingressos ou pela dificuldade de locomoção até os grandes teatros.
Formado por seis atores e mais quatro pessoas de apoio, o Engenho Teatral foi criado pela Cooperativa Paulista de Teatro em 1993. O projeto busca em suas apresentações fugir do tradicional teatro apresentado nos grandes centros, a começar pela forma como os artistas e plateia são acomodados. Não existe palco, os atores em cena ficam no centro e o público ocupa as cadeiras na frente e ao lado das cenas.
“Tudo é diferente dos outros teatros, a iluminação, o preparo, além do dinamismo das cenas”, afirmou a secretária escolar Evani Chagas dos Santos, de 55 anos, que conheceu o trabalho do grupo na semana passada.
A ideia do grupo é desenvolver um senso crítico na plateia com peças que satirizam os problemas sociais do Brasil, com inteligência e descontração. Atualmente, o Engenho está em cartaz com o espetáculo “Opereta de Botequim”, um musical que tem como cenário um bar.
Na peça, o público tem uma aula sobre a história do Brasil, pois o texto aborda o trabalho desde os primórdios da colonização até os dias atuais.
Para a professora Viviane Sena dos Santos, de 25 anos, a peça trouxe uma reflexão sobre o papel do trabalhador na sociedade. “É angustiante ver como o trabalhador vem sendo explorado desde o ciclo do ouro, em 1700, até hoje”, comentou Viviane.
Luiz Carlos Moreira, um dos ativistas do projeto, explicou que o Engenho é um teatro de grupo, que foge da tradicional organização teatral. “No teatro de grupo, o artista, além de desempenhar diversos papéis, expõe os seus conceitos e visões no personagem que está desenvolvendo”, disse.
Segundo os artistas, o teatro de grupo traz mais responsabilidades ao ator. “Não é simplesmente entrar no palco e encenar um papel. Aqui nós fazemos um discurso nosso. Depois da experiência com o teatro de grupo eu não me encaixaria nos espetáculos tradicionais. Acho que eu seria uma pedra no sapato do diretor”, disse o ator Beto Nunes, de 40 anos.
Grupo também desenvolve Teatro de Bolso
Um dos trabalhos desenvolvidos pelos artistas do Engenho Teatral é o Teatro de Bolso. São cenas com duração de dez minutos, dramatizadas em ambientes distintos. A última encenação realizada abril foi em Embu-Guacú, na Grande São Paulo, durante uma passeata por habitação para 3 mil famílias. O grupo apresentou no meio da multidão cenas que refletiam o propósito da manifestação.
Fonte: Rede Bom Dia