Comuns na Europa e na América do Norte, os audiolivros ainda não pegaram por aqui. Para tentar alavancar esse mercado, uma das pelo menos quatro editoras especializadas no filão em São Paulo acaba de inaugurar uma livraria destinada exclusivamente a comercializar os livros nesse formato: a Audiolivro, que fica na Rua Bom Sucesso, 247, no Tatuapé (11 2098-3331). “No ano passado, mantivemos um quiosque no Shopping Metrô Santa Cruz, e foi uma experiência bem interessante. Então, resolvemos abrir nosso espaço”, conta o proprietário, Marco Giroto.
Antes disso, os livros lançados pela editora – que, fundada em 2007, acumula cerca de 80 títulos – poderiam ser adquiridos somente em outras livrarias ou via internet. Como, aliás, acontece com suas principais concorrentes na cidade: a Livro Falante, a Livrosonoro e a Universidade Falada. Nelas, há a opção de comprar em CD, com preços que variam de R$ 24,90 a R$ 30, ou fazer um download do arquivo de áudio, em formato MP3, de R$ 4 a R$ 18 – a Livrosonoro não oferece esta última opção.
Boa parte dos títulos lançados não é produzida especialmente para o formato. Trata-se de uma nova versão de obras que se tornaram conhecidas em edição de papel. Pode-se ouvir clássicos como Iracema, de José de Alencar, e best-sellers como “O Monge e o Executivo”, de James C. Hunter, e “1808?, de Laurentino Gomes.
A falta de tempo e o trânsito de São Paulo são os principais argumentos utilizados por quem já se rendeu à mania. “Moro em Interlagos, estudo na Vila Buarque e trabalho no Morumbi“, conta a estudante de Biblioteconomia Angela Reis Silva, que em dezembro comprou “Quando Nietzsche Chorou”, de Irvin D. Yalom – o primeiro audiolivro de sua coleção, que já ultrapassa uma dezena. “Só para ir de casa à faculdade, gasto duas horas no ônibus. Vou ouvindo algum livro no meu (tocador de) MP3.”
Não são só os leitores que utilizam esse raciocínio, a propósito Giroto, o dono da Audiolivro, era analista de sistemas quando decidiu abrir o negócio. De sua casa, na zona leste, à empresa, em Alphaville, gastava um total de três horas, entre ida e volta “Todas as rádios tocavam as mesmas músicas. Fiquei indignado”, lembra. Resolveu fazer livros em áudio. Situação parecida levou o médico dermatologista Claudio Wulkan a criar a Universidade Falada, em 2006. “Como sempre estou andando entre um consultório e outro, costumava ouvir audiolivros que trazia do exterior”, conta ele. Sua editora já tem 250 títulos e mantém uma ação social disponibilizando seu acervo para a Fundação Dorina Nowill para Cegos.
Criada no ano passado, a Livrosonoro escolheu outro alvo para mirar: os jovens estudantes. “Estamos nos especializando nos títulos indicados para os vestibulares”, explica um dos proprietários, Luiz Carlos Gioia. “O livro sonoro não substitui o impresso, mas é uma alternativa para quem tem dificuldade ou não gosta de ler. Há a facilidade de ouvi-lo no carro, no celular, no iPod… E o jovem não ‘paga o mico’ de ficar lendo perto de seus colegas.” (Ao que parece, nas novas gerações há quem acredite que ler seja hábito vergonhoso.)
Por falar em vestibular, a Livro Falante tem um interessante projeto de transformar em áudio a obra de Machado de Assis. Na voz do repórter do CQC – programa jornalístico-humorístico da Band – Rafael Cortez, já foram lançados “Dom Casmurro”, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “O Alienista”. E está para sair “Quincas Borba”. Em MP3, Machado de Assis continua imortal.